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Caminhoneiros: o “irmão da estrada” agora é virtual

Poucas categorias profissionais são tão unidas quanto a classe dos caminhoneiros. Quem viaja de carro ou ônibus, pelas rodovias brasileiras, já deve ter visto essa cena: vários caminhões parados no acostamento, porque um deles está com problemas e os outros estão ali para ajudar o colega. Mesmo que não seja necessário todos eles estarem ali ou que não possam fazer nada para resolver o problema, os caminhoneiros não costumam deixar um “irmão da estrada” desamparado.

Bem na verdade, essa cena tem se tornado menos comum nas rodovias. Isso porque, hoje em dia, os motoristas de transportadoras são rastreados 24 horas por dia e, por isso, não podem parar em qualquer lugar, a hora que quiserem. Até mesmo os autônomos têm tido menos tempo para ajudar um colega em apuros, tendo em vista os rígidos prazos de entrega que precisam cumprir. Mas isso quer dizer que o companheirismo entre os caminhoneiros está diminuindo?

Claro que não! E é sobre isso que se trata esse texto. Afinal, com celulares que dão acesso à Internet de qualquer lugar, não é preciso estar no mesmo local, fisicamente, para estar junto com os colegas. O companheirismo entre os caminhoneiros continua mais forte do que nunca, por meio de ferramentas como o Facebook e o WhatsApp.

De fato, uma busca rápida na rede social permite encontrar uma infinidade de grupos de caminhoneiros, cada um com centenas de integrantes. Entramos em alguns desses grupos e comprovamos, na prática: os membros dos grupos interagem o tempo todo, discutindo os mais diversos assuntos.

O principal tema das conversas, como não poderia deixar de ser, é a vida na estrada. Os colegas compartilham vídeos e fotos sobre o dia a dia na boleia, mantendo à distância o contato que, antes, ocorria ao vivo. Também é interessante observar que, ao contrário do que se poderia pensar, aliás, existem muitas mulheres no grupo: tanto os “cristais” — como são chamadas as esposas dos caminhoneiros, na gíria da categoria —, quanto mulheres caminhoneiras.

Os pedidos de ajuda também são bastante frequentes: a escolha de um novo acessório para o caminhão, como resolver um problema mecânico no veículo ou como chegar a algum local que o motorista não conhece.

Em nossa pesquisa vimos, por exemplo, um jovem caminhoneiro pedindo auxílio para entender uma mensagem no computador de bordo do seu veículo. Em poucos minutos, mais de 100 outros colegas publicaram suas respostas, dando dicas do que poderia ser aquele problema. Em outro grupo, vimos publicações de motoristas avisando sobre perigos na rota que eles estavam fazendo, discussões sobre valores de frete, entre outros assuntos que logo geraram dezenas ou centenas de respostas, num bate-papo bastante animado.

Engana-se quem pensa que — como em muitos outros lugares da internet — a maioria dos comentários é besteira: quase todo mundo ali está realmente tentando ajudar o companheiro e boa parte dos conselhos tem fundamento e é algo que se possa aproveitar para resolver o problema.

Mas a maior prova de que essa união virtual dos caminhoneiros é forte ocorreu no ano passado, durante a greve da categoria. Conforme noticiado por diversos veículos de comunicação, grande parte do movimento era organizado por grupos de WhatsApp. Ou seja, a internet serviu para potencializar uma característica que já era muito presente entre os caminhoneiros: eles continuam unidos, agora pelo celular.

Descobrir essas ferramentas foi muito reconfortante para caminhoneiros mais experientes, que sentiam falta das paradas na beira da estrada, de antigamente. Quem relata isso é nossa auxiliar administrativa Gislaine Moura, filha de um caminhoneiro aposentado.

Durante pesquisas para se informar sobre a greve de 2018, ela descobriu alguns grupos, que indicou para amigos do pai que ainda estão na boleia. “Hoje ficou muito mais fácil: eles publicam na página do Facebook ou grupo de WhatsApp e conseguem resolver com facilidade todos os problemas”, conta Gislaine.

Vários desses grupos também são bastante interessantes para divulgar informações úteis para transportadoras, como preços de frete, do diesel ou movimentações do governo que podem impactar o setor. Frequentemente Gislaine compartilha notícias que descobre nesses grupos com seus clientes na Fazenda Contabilidade — uma das especialidades da consultoria é a assessoria para transportadoras, um setor com bastante especificidades.

De fato, quando trabalhamos com setores como esse, de transportes, precisamos ir atrás de ferramentas diferentes, que nos permitam descobrir novas informações e entender melhor a realidade dos clientes. Nos grupos de caminhoneiros, o dia a dia da boleia fica evidente e é muito interessante observar a troca de experiências entre os membros. Mas, com certeza, é muito mais interessante para eles poder contar com esses “irmãos de estrada”, mesmo que à distância.

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