O Brasil está vivendo um ciclo de alta de juros desde janeiro de 2021, quando a taxa Selic foi majorada pela primeira vez, de 2% para 2,75%. Desde então, a taxa de juros aumentou mais 12 vezes, até chegar aos atuais 13,75% — porcentagem que é mantida desde agosto de 2022, em sucessivas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central.
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira — é a partir dela que todos os outros juros no país são definidos. E isso impacta as empresas e os cidadãos de diversas maneiras.
Discutir esses impactos é o principal objetivo deste texto. Porém, antes disso, é importante explicar o que é a taxa Selic, como ela é definida, por que ela está nesse valor de 13,75% — e, então, podemos compreender o debate acerca deste valor específico.
O que é a taxa Selic e por que ela está em 13,75%?
A taxa Selic — sigla para Sistema Especial de Liquidação e de Custódia — é um dos principais instrumentos que o Banco Central possui para controlar a inflação. De forma bem resumida, a taxa de juros é elevada para desencorajar o consumo e os investimentos, desacelerando a economia. Com isso, a demanda cai e a inflação também.
Se você está lendo este artigo em maio ou junho de 2023, é muito provável que a taxa de juros do Brasil ainda esteja em 13,75% — uma mudança nesse cenário é esperada apenas para o 2º semestre de 2023.
Enquanto isso, o Governo Federal (e alguns economistas) argumentam que a taxa de juros no Brasil está mais alta do que o necessário. Isso porque, quando esse ciclo de alta dos juros teve início, a inflação estava em 10% ao ano — agora, está entre 4 e 5%. Logo, o Brasil tem os juros reais — ou seja, a diferença entre a inflação e a taxa básica de juros — mais altos do mundo.
Já o Banco Central e alguns outros setores da economia acreditam que a inflação ainda está acima do ideal: a meta é de 3,25%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Portanto, esse ainda não seria o momento para baixar a taxa Selic.
Vale lembrar que, desde 2021, o Banco Central é independente por lei. Sendo assim, não pode sofrer ingerências políticas, apesar de seus membros serem indicados pelo Governo.
No meio dessa queda de braço, ficam os cidadãos brasileiros — empresários e assalariados — que precisam lidar com essa taxa de juros e seus impactos na economia. Em primeiro lugar, é importante avaliar que todos os outros juros no Brasil, dos empréstimos aos investimentos, são definidos com base na taxa Selic. É aí que começamos a entender os impactos disso.
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Os impactos da taxa Selic para as empresas
Os ciclos de alta e baixa taxa Selic afetam a atividade econômica no Brasil e as empresas de diversas maneiras — em alguns setores, naturalmente, esses impactos são mais perceptíveis do que em outros. Dito isso, nós podemos resumir o impacto da taxa Selic nas empresas em quatro pontos principais.
1. Demanda por produtos ou serviços
Como dissemos, um dos principais objetivos do Banco Central em aumentar a taxa Selic é desencorajar o consumo para que a inflação caia. Logo, esse é um dos primeiros impactos que as empresas sentem: uma redução na demanda por seus produtos ou serviços.
Isso é especialmente sensível nos setores da economia que dependem do parcelamento ou financiamento para vender — caso da indústria automotiva, da construção civil, das lojas de móveis e eletrodomésticos, entre outros segmentos. Isso porque os juros ficam maiores e os consumidores tendem a esperar para comprar, se possível.
Sobre isso, é interessante observar que a economia no Brasil já está desacelerada, com uma projeção de crescimento do PIB abaixo de 1%, em 2023. Esse é mais um argumento utilizado pelos críticos da taxa de juros em 13,75%, diga-se de passagem: eles dizem que a inflação que vemos no Brasil não é causada por uma demanda alta, mas sim por outros fatores que não se relacionam com os juros. Logo, baixá-los não traria impacto significativo à inflação.
Mas independente dessa discussão as empresas podem observar uma procura menor por seus produtos e serviços, enquanto a Selic estiver nesses patamares mais altos.
2. Custo do crédito e endividamento
Outro aspecto essencial da taxa Selic é que ela determina todos os outros juros praticados no país, incluindo empréstimos que as empresas podem precisar para realizar investimentos de grande porte — em expansões, novas instalações ou contratações. Logo, esses planos podem ficar “congelados” até que os juros se tornem mais atrativos.
Ainda falando de empréstimos, é importante notar que o custo do endividamento também aumenta de forma proporcional à taxa de juros. Logo, se a empresa possui muitas dívidas em sua estrutura de capital, pode ficar mais complicado cumprir com todos os compromissos ou renegociar prazos de pagamento.
3. Perfil de investimentos
Como dissemos logo acima, é comum que as empresas esperem para fazer investimentos de grande porte em um cenário de juros altos. Contudo, isso não acontece só em empresas que precisam de empréstimos para fazê-los: para empresas que têm bastante dinheiro em caixa, pode ser mais interessante aplicá-lo em algum investimento mais seguro, de renda fixa, até que as perspectivas mudem.
Essa mudança de perfil é observada no mercado financeiro, de modo geral: com uma taxa de juros alta, os investimentos em renda fixa se tornam mais atrativos, já que eles costumam ser mais seguros. Logo, as ações das empresas podem perder liquidez e quem busca investidores (como as empresas de tecnologia costumam fazer) pode ter mais dificuldade.
4. Impactos da taxa Selic na contabilidade
Por fim, chegamos à contabilidade em si: o aumento da taxa Selic não gera impactos diretos nos impostos pagos pelas empresas. Entretanto, se ela tem investimentos em renda fixa — e esses investimentos rendem mais por causa das taxas de juros —, pode acabar pagando mais impostos porque a base de cálculo aumenta. Mas isso é proporcional aos ganhos, é claro.
Outra questão que precisamos analisar, nesse sentido, é a dedutibilidade dos juros pagos em empréstimos na apuração de lucro tributável.
Porém, o impacto mais importante da taxa Selic na contabilidade diz respeito à correção e às para impostos pagos com atraso. Com juros mais altos, esses valores aumentam muito, o que torna ainda mais importante pagar todos os tributos corretamente e em dia. Para isso, é claro, as empresas precisam de um bom escritório de contabilidade.
Por fim, outros ajustes contábeis referentes aos patrimônios ou os investimentos da empresa podem ser necessários. Conforme a taxa Selic oscila, o valor do dinheiro ao longo do tempo também varia, demandando novos estudos de contabilidade.
A taxa Selic impacta a contabilidade dos cidadãos?
Depois de analisar as principais implicações da taxa de juros no ambiente econômico e nos investimentos feitos pelas empresas, é interessante responder a uma outra pergunta muito comum: isso afeta a vida dos cidadãos comuns, que não têm grandes investimentos?
A resposta é sim, afeta de diversas maneiras, mesmo aquelas pessoas que estão na base da pirâmide social. Isso porque todos os cidadãos pagarão juros maiores para parcelar compras, contrair empréstimos no banco ou fazer financiamentos. Quem pode esperar para comprar um carro ou uma casa é menos prejudicado, mas quem se vê em dívidas corre sérios riscos.
Isso aumenta a necessidade de um bom planejamento financeiro.
Mas além dos empréstimos e financiamentos, os juros maiores também podem influenciar na geração de empregos, na medida em que as empresas congelam investimentos, como foi dito acima. Em última instância, os juros altos refletem até nas famílias que necessitam dos programas sociais: com juros mais altos, o governo gasta mais para honrar a dívida pública, de modo que sobram menos recursos para atender a essa camada da população.
Sendo assim, concluímos dizendo que esse assunto é de extrema importância não apenas para os agentes do mercado financeiro ou grandes empresários, mas para todos que estão economicamente ativos no país: de uma forma ou outra, a taxa de juros afeta a todos nós.
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