A gestão de empresas familiares é um desafio a ser superado, proporcionalmente ao tempo em que o negócio permanece inábil na parte administrativa. Ou seja, quanto mais antiga a empresa for na sua organização amadora, mais complexa será a transição.
Por outro lado, esse processo de mudança, para um formato profissional, pode ser facilitado, desde que obstáculos comuns sejam superados. No Brasil, essa é uma realidade bem conhecida, já que, segundo o Sebrae, mais da metade das PMEs no país são de origem familiar.
Diante dos números, não resta alternativa que não seja se preparar para o inevitável, ou seja, a troca do regime de gestão para o profissional. Vamos ver como funciona?
Concilie a visão das diferentes gerações
Você já ouviu falar dos Baby Boomers? E das gerações X, Y e Z? Por mais que pareça confuso, essas formas de categorizar diferentes grupos servem como referência na hora das empresas recrutarem. Nos negócios familiares, entender como pensam os profissionais, conforme a década na qual tenham nascido, ajuda muito a alinhar objetivos e estratégias. Considere ainda que, nem sempre, um herdeiro natural tem vontade de assumir os negócios iniciados pelo seu pai ou, em alguns casos, pelo avô em tempos distantes.
Também, é forçoso considerar que, no Brasil, 9 em 10 empreendimentos em família não resistem à sucessão na segunda ou terceira geração. Essa triste estatística pode ser, em parte, creditada à falta de metas e aspirações comuns às distintas personalidades envolvidas.
Conciliar a visão de gerações é um processo nem sempre tranquilo. Demanda muita paciência, diálogo e boa vontade de todas as partes. Por isso, essa é, talvez, a etapa mais difícil de ser superada no decorrer da transformação da gestão de empresas familiares.
Cobre o comprometimento de todos
Mesmo que todos os objetivos estejam alinhados, nada caminha se, ao longo da jornada, o empenho dos herdeiros e sócios não se traduzir em ações. Isso significa encarar o negócio muito a sério, assumir responsabilidades ou, em síntese, liderar pessoas.
Estar à frente de uma empresa significa tomar decisões, às vezes, muito difíceis, nas quais, um lado poderá sair prejudicado. Por isso, quanto mais envolvidos e comprometidos com a empresa os membros da família estiverem, mais rápidas serão superadas as turbulências.
Gerir pessoas não é uma tarefa fácil e, nos negócios em família, até simples questões podem gerar conflitos. Se cada um não fizer sua parte, são grandes as chances de haver disputas de egos, boicotes e até sabotagens.
Defina a hierarquia na empresa
Outro potencial causador de conflitos em negócios familiares é a definição do organograma. O principal aspecto a ser considerado aqui é a alocação dos indivíduos nos cargos segundo critérios de competência e não por afinidade ou proximidade de parentesco. Nem sempre essa regra é seguida e é aí que mora o perigo.
Até mesmo microempresas com menos de 10 funcionários precisam ter à sua frente pessoas com preparo técnico. Afinal, trata-se de garantir a continuidade das operações, além do trato de aspectos administrativos, como contratações, impostos, funcionários e fornecedores. Imagine ter que lidar com tantas responsabilidades sem formação ou experiência adequada?
Sendo assim, a eficiência na gestão está diretamente ligada à hierarquia definida conforme o mérito profissional de cada um. Qualquer critério que fuja disso colocará em risco a sobrevivência do negócio.
Invista na capacitação dos funcionários
Um bom exemplo de empresa familiar que fez com brilhantismo a transição para um regime profissional é o Magazine Luiza. Da solução para o endividamento crônico ao atual faturamento bilionário, foi preciso dosar muito bem as questões sucessórias na família Trajano, dona da empresa.
Entre tantas medidas tomadas para revitalizar o negócio, o investimento na capacitação e empoderamento dos funcionários revelou-se vital. A partir da maior autonomia concedida, cada colaborador pôde desenvolver o sentido de pertencimento não a uma empresa, mas a uma família.
Assim, o comprometimento torna-se uma consequência natural, em virtude do florescimento de uma cultura na qual prevalece a disciplina exercida com consciência. Portanto, tenha os casos de sucesso sempre em vista como benchmarking para apoiar suas decisões e minimizar erros.
Conte com o apoio profissional
Não menos importante, o apoio de especialistas continua sendo a melhor maneira de garantir a implementação de modelos profissionais de gestão. Tributação, folha de pagamento, encargos e cadeia logística são assuntos que exigem, no geral, a participação de gente qualificada.
Considere, também, os aspectos ligados ao mercado no qual sua empresa está inserida. Será que uma assessoria contábil, por exemplo, não seria mais útil para reduzir os custos com os impostos? Uma empresa com experiência em consultoria, na maior parte dos casos, tem a solução para problemas que, no contexto familiar, parecem impossíveis de sanar.
É o que acontece, por exemplo, nas empresas que desconhecem os mecanismos para elidir impostos ou receber créditos fiscais. Gestores amadores não são capazes de tomar as medidas necessárias para que um imposto a mais deixe de ser pago. Da mesma forma, não tem os requisitos indispensáveis para angariar recursos a partir de leis de incentivo e outros benefícios previstos em lei.
Consolide a gestão da sua empresa familiar
Por tudo que foi exposto até agora, é certo que sua empresa só tem a ganhar, caso consiga levar adiante um processo de implementação de gestão profissional. Evidentemente, não se pode esperar que esse seja um percurso livre de obstáculos, dos pequenos aos quase intransponíveis.
No entanto, quando prevalece o bom senso e se estabelece um clima de cooperação, a tendência é para que o negócio passe a navegar no “oceano azul”. Nessa condição, a empresa se vê sem concorrentes, ou seja, passa a atuar para superar apenas seus próprios limites.
O já citado caso do Magazine Luiza, serve para ilustrar o enorme potencial que um empreendimento em família carrega. As estatísticas podem não ser favoráveis, mas as empresas que conseguem escapar delas são a prova de que vale muito a pena investir na gestão de empresas familiares.
E você, concorda com os tópicos abordados ou conhece outros casos de empresas familiares bem-sucedidas? Deixe um comentário, será um prazer conhecer sua experiência!